SÃO PAULO
São Paulo
De onde nasce a água que te banha calada, soterrada e barrenta. Onde arrebenta teus mares bravios, nas encostas atlânticas de tuas praias do norte. De maresias, ares e lestes, de trilhas e bandeiras celestes, dos selvagens que lhe abriram as matas.
De teu colégio precoce, de teu beato rebelde. Vocação nata para a independência republicana. Catequista por instinto, visão de Anchieta. Japonesa, italiana, árabe e baiana.
Tirana dos fracos, aliada dos fortes, verdade abstrata e cubista, que preenche a vista de cimento e gás.
De Mario, Tarsila e Oswald. De judeus com nomes de árvores. Monstruosas vias de ligações instantâneas, metropolitanas de badalação. São João, Ipiranga, Minhocão.
Injusta, vulgar e bruta. Abrupta assassina dos sonhos nordestinos, de meninos velhos de cabeças chatas, de sotaques nasais e imitações baratas. Repentistas, camelôs, vendedores de biju, picolé, caju, quebra queixo, pastel e umbu, coco.
Oco é o vento que lhe apressa o tempo. Com os olhos a flertar no trânsito, com a escravidão codificada em horas, das garoas finas, das meninas novas nas portas de escola, no shopping.
O dopping nosso de cada dia, que aquece a fria face sombria, de sua noite esguia, menina interrompida, de esplanadas virgens estupradas por concretos duros, cinzas, brancos, beges, amarelo escuro. Travecos e otários motorizados que xavecam flanelinhas e freqüentam a rua Augusta.
R.M.
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