Casta
Casta
É de tua boca seca e faminta que palavras calam e salivas jorram, fazendo umedecer desejos, ampliar bocejos e demonstrar batons. É de teus rouges alaranjados, de tons de roxo e dourado, de vermelhos escarlates e rosas, prosa à toa e papo.
É de tua falsa pureza que venho falando. De teu estupro ao contrário, casto e salafrário, que não masturba e não sente, não se entrega, não goza. Não doa a carne e não transcende o espírito, mente!
Doente de amor e de ódio, envolvida em sonhos de sódio, paixões de bronze, aromas de enxofre e medos de alfazema, suor e lágrimas termo estáticas. Ginásticas para embelezamentos, tormentos para ser amada.
Burra! Frígida e coitada! Não vês o falo, o furo e a queda?
Não vês o filho, o carma e a moeda? A merda toda que vens censurando, miguelando gostosuras, travessuras e esse queijo minas?!
Loira prateada, endiabrada e russa. Bolchevique dos erotismos proletários, de sarros de gordos e magros que te cospem as cifras do suor maligno, de dias trabalhados e noites insone, de famílias adiadas e prazeres tardios.
Piranha, rameira e suja, que alimenta minha vida inútil, de energias vibratórias e telúricas.
R.M.
Despertar
Despertar
Quando ajudar substituir o concorrer, o concordar. Quando lucro for o próximo e juros seus filhos. Quando a mão e os lábios deixarem de ser gatilhos e os pés rodas.
Quando o pênis não for mais vendido, quando o egoísmo não for mais à moda, quando as meninas amarem e gozarem da mesma forma que fazem fofoca.
Quando os espíritas se libertarem e os capitalistas evoluírem, quando cadeia não der mais dinheiro e um governo não fizer sentido.
Quando o consumo baixar, quando setembro chegar. Quando você parar e pensar o porque de tudo isso? Você vai ver, você vai enxergar e vai se perguntar;
Até quando iremos caminhado sem despertar, meu bem!?
R.M.
SÃO PAULO
São Paulo
De onde nasce a água que te banha calada, soterrada e barrenta. Onde arrebenta teus mares bravios, nas encostas atlânticas de tuas praias do norte. De maresias, ares e lestes, de trilhas e bandeiras celestes, dos selvagens que lhe abriram as matas.
De teu colégio precoce, de teu beato rebelde. Vocação nata para a independência republicana. Catequista por instinto, visão de Anchieta. Japonesa, italiana, árabe e baiana.
Tirana dos fracos, aliada dos fortes, verdade abstrata e cubista, que preenche a vista de cimento e gás.
De Mario, Tarsila e Oswald. De judeus com nomes de árvores. Monstruosas vias de ligações instantâneas, metropolitanas de badalação. São João, Ipiranga, Minhocão.
Injusta, vulgar e bruta. Abrupta assassina dos sonhos nordestinos, de meninos velhos de cabeças chatas, de sotaques nasais e imitações baratas. Repentistas, camelôs, vendedores de biju, picolé, caju, quebra queixo, pastel e umbu, coco.
Oco é o vento que lhe apressa o tempo. Com os olhos a flertar no trânsito, com a escravidão codificada em horas, das garoas finas, das meninas novas nas portas de escola, no shopping.
O dopping nosso de cada dia, que aquece a fria face sombria, de sua noite esguia, menina interrompida, de esplanadas virgens estupradas por concretos duros, cinzas, brancos, beges, amarelo escuro. Travecos e otários motorizados que xavecam flanelinhas e freqüentam a rua Augusta.
R.M.
Tristeza
Triste saber a verdade.
Além das camuflagens intelectuais que te anestesiam a consciência de que; A cada instante que se vive, mata-se de fome em outro canto do globo.
A cada inspiração nossa, um passo a mais em direção ao fim eterno. A cada expiração, uma nota musical que consola.
Não há amor, ou vida a dois que abrevie esse fato, de que: Por mais feliz que o homem seja, triste é viver. Triste é saber a verdade de que as inteligências são fragmentadas, de que a religião é um intelecto e o corpo uma igreja.
Não precisávamos de nada disso. De alegorias católicas, de matrimônios apostólicos, festim alcoólicos e essa elegante degeneração. Juras de fidelidade, não seriam necessárias nem palias para a grande verdade do amor.
Há o amor! Que triste amor é esse que me habita e grita solitário, na esperança besta de encontrar seu eco em meio à imensidão dos pastos, dos vastos campos de seu coração.
Que corações são esses? Que batem em descompasso, no desembaraço louco de se abrir o corpo dos outros, de transformar em água pensamentos insanos de mastigação da pele, friccionando a derme e disparando o à bomba cardíaca.
Que dia horrível meu deus, que dia!
R.M.
Das Minorias
É bem verdade que não existimos sem misérias coletivas e pessoais. Defecamos, vencemos, adiamos a evolução, em nome do medo de um socialismo espiritual que não aceita meias-verdades.
O homem em essência é amante da morte, da guerra, da mentira e da incoerência, por isso é o Homem. E assim se cria o corporativismo, o banco, os juros. A idéia medonha e sádica de que se deve pagar para comer o que brota da terra.
E o que é metal, moeda, papel, substitui o sentido de Deus, Pai, misericórdia. Totalidades fragmentadas, inteligências sofismáticas, distorções. Intelecto sem sentimento, maldade e perversão.
Só há prosperidade na América, as custas das desgraças na África, no Oriente, na Arábia. Há um Bush dentro de nós para cada santo que grita socorro. Açoitamos sempre os outros, na esperança de desvincular-se do que também é nosso.
E assim cremos num emprego, num décimo terceiro, férias, promoção. E nossos filhos crescem educados por tias, colegas, televisão. Barganhamos a felicidade em troca de certezas táteis.
Esquecemos das sementes, do grão de mostarda, da provisão. Emancipamo-nos do Um, da essência, na esperança vã de assassinar o Pai e a Mãe, o Céu e a Terra. Criamos bolhas de amor artificial, pra distorcer o mau, o Tao.
Não sabemos nada há não ser que não sabemos. É obrigação do forte ajudar o fraco e essa lei se chama, Amor.
R.M.